sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quebre o silêncio

Por Anna Lydia (Jundiaí) 


"A nossa luta é por respeito,
Mulher não é só bunda e peito"


Este foi o tema da Marcha das Vadias deste ano, quebre o silêncio contra toda a forma de violência à mulher. A concentração deste grupo no mundo todo busca uma forma de lutar contra a agressão e a desigualdade em relação à mulher. Infelizmente, uma das maiores dificuldades para diminuir os casos de estupro e a violência é exatamente o silêncio das vítimas. O medo fala mais alto, pois muitas vezes, o agressor está muito próximo e é o próprio marido, namorado, pai ou irmão.
Mas este tema me fez refletir outro tipo de violência e que não tratamos com a seriedade necessária. É aquela violência silenciosa e cotidiana que temos de lidar nas ruas, os gritos de “gostosa”, “delícia” e até mãos bobas que circulam por nosso corpo em ambientes lotados. Estas atitudes podem ser tão dolorosas quanto a agressão física em si, mas estamos tão acostumadas que só nos damos conta o quanto isso é desrespeitoso quando alguma palavra mais forte nos é dirigida. Chegar ao ponto de ter que escolher a roupa que chama menos atenção é o principal sinal do quanto isso nos afeta.
Este é um silêncio que também precisa ser quebrado, apesar de ser visto como exagero por muitos. Graças a estes desconhecidos que ultrapassam os limites da liberdade e acham que tem o direito de nos tratar como um pedaço de carne, é que faz a sociedade crer que a culpada pelo estupro é a própria mulher. “Ela deu brecha”, “ela usou roupa escandalosa”, “ela gostou”. Frases como estas, ouvidas por muitas vítimas, nasceram de um simples e rotineiro “gostosa” nas ruas, um olhar malicioso ou um burburinho entre amigos enquanto uma mulher passava. Comentários machistas geram uma sociedade machista, que começa nas ruas e termina na delegacia.
Quebrar o silêncio vai muito além de expor o agressor, é também não aceitar comentários desrespeitosos vindos de desconhecidos. E esta é uma luta tão complicada quanto a agressão.
Como forma de reflexão, vale a pena ler este texto e as consequências desta violência silenciosa: http://papodehomem.com.br/como-se-sente-uma-mulher/




sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mulheres de poesia, mulheres reais


Por Anna Lydia (Jundiaí)

Flor, meu bem, amada, sol da manhã. Complexas, simples, mulheres de todos os tipos, atitudes, gestos.Assim é a mulher, símbolo por tanto tempo considerada intocável para os poetas, e de difícil explicação para tantos outros.

Muitos músicos e poetas tentaram explicar a grandeza de ser mulher. Victor Hugo comparava o feminino do masculino, dizendo que "O  homem pensa, a mulher sonha. Pensar é ter cérebro, sonhar é ter na frente uma auréola. O homem é um oceano, a mulher um lago. O oceano tem pérola que o embeleza, o lago tem a poesia que o deslumbra". Claro que isso,hoje em dia,não faz mais sentido, as mulheres cada vez menos estão sendo lembradas apenas pelo seu lado sensível, mas também sábio e batalhador.

Até mesmo as mulheres tentaram explicar o que é este ser tão complexo, como diz a música de Elba Ramalho. "Pra descrever uma mulher, não é do jeito que quiser. Primeiro tem que ser sensível, senão é impossível. Quem vê por fora,  não vai ver por dentro o que ela é. É um risco tentar resumir".

O mestre da composição e o queridinho das mulheres, Chico Buarque, musicou a letra de Augusto Boal, Mulheres de Atenas. "Quando amadas, se perfumam, se banham com leite, se arrumam. Suas melenas. Quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem, imploram Mais duras penas, cadenas". Esta letra, apesar de tentar entender a mulher de antigamente e a qual parece muito uma ode à submissão feminina, é exatamente o contrário. Chico se refere à força incompreensível que emana da mulher e como ela não deve se submeter às vontades dos maridos e filhos, tal como faziam as Mulheres de Atenas.

Já o poeta da Paixão, Vinícius de Moraes era sempre inspirado por uma mulher, ele que foi casado 9 vezes. Mulher era sua temática preferida. "Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza. Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora. Qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher. Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor. E para ser só perdão".

São muitas receitas, até mesmo algumas machistas em que a mulher veio para o amor e por ele deve sofrer. O fato é que nunca ninguém conseguiu  nos explicar. Os anos passaram, nós mudamos e estamos conquistando nosso espaço e ainda assim, nem nós nos explicamos, tamanha nossa grandeza.O que fica evidente é que a mulher não deve ser explicada, nem deve ser aquilo que querem que ela seja, mas aquilo que realmente ela é. Mulher como todas as suas extensões e como ela deseja ser.





Magdalenas 3ª Geração- Apresentação

A rede Magdalena foi fundada em 1986, no País de Gales por Jill Greenhalg para tratar do papel da mulher na sociedade em geral. Através das mulheres do teatro, Magdalena busca uma discussão crítica, apoio e treinamento de mulheres artísticas.
Magdalena 2ª geração foi criada em novembro de 2001 com mulheres latinoamericanas, que se utilizam  do teatro independente para mostrar as lutas das mulheres na sociedade. Procura articular a criação e o desenvolvimento social da arte promovendo uma estrutura que alimente o crescimento do trabalho das mulheres do campo artístico.
E nós, mulheres brasileiras divididas em atrizes e jornalistas, formamos em 2013 as Magdalenas 3ª Geração.
Não chegamos ao meio de 2013 ainda e o ano já tem sido muito produtivo para as Magdalenas. Confira aqui alguns trabalhos do grupo.

Fevereiro 
"One Billion Rising"ou "Um bilhão que se ergue"é um movimento global, realizado anualmente no dia 14 de fevereiro, que visa acabar com a violência contra meninas e mulheres.
A campanha foi iniciada pela dramaturga americana Eve Ensler (ela própria sofreu abusos sexuais de seu pai quando criança) em 1998, quando uma instituição de caridade usou a peça de Eve, "Monólogos da Vagina", para arrecadar dinheiro e ajudar mulheres vítimas de violência.
De acordo com o movimento, as estatísticas indicam que 1 a cada 3 mulheres será espancada ou estuprada durante sua vida. Isso corresponde a 1 bilhão de mulheres agredidas no Planeta! A proposta do One Billion Rising é reunir na data, 1 bilhão de mulheres para reivindicar contra a violência, dançando.
No dia 16 de fevereiro, meninas e mulheres foram dançar toda sua doçura e beleza em Praça Pública.

Foto: Gabriel Santos

Março
No mês da Mulher, as Magdalenas organizaram uma Intervenção Poética para que nós, mulheres, nos firmasse como tal, cada qual com sua personalidade, força,estilo e voz.
Baseando-se no texto Rondó de Mulher, cada uma das mulheres falou daquilo que gostava de fazer ou ser, independente da opinião dos outros.
Uma forma libertadora de mostrar que as mulheres cada vez mais têm conquistado seu espaço na sociedade, na política e na arte. Acima de presentes e lembranças, precisamos de respeito!

Foto: Gustavo Adolfo

Oficinas com Blanca Rizzo
Nós, Magdalenas 3ª Geração tivemos a honra e o prazer de receber a dançarina e coreógrafa argentina Blanca Rizzo.
Blanca é um expoente da mulher na arte, ela que utiliza a beleza feminina de maneira tão forte para trabalhar questões como tráfico de mulheres, aborto, estupro e violência. Em suas apresentações, ela quer deixar a mensagem clara. "Boa parte das mulheres não tem ideia de que isso existe. Nos espetáculos, deixo uma mensagem de alerta".
Há um ano, Blanca participa da Magdalenas 2ª Geração,que trabalha o lado político da mulher, principalmente pelo sofrimento tão extenso vivido pela Ditadura na Argentina.
Blanca ministrou duas oficinas na cidade, de "criação e poetização" e a outra de "dramaturgia de corpo e Texto"

Foto: Cíntia Carvalho

A ditadura da beleza versus a autoconfiança


“Não seja só bonita, seja interessante” – Nelson Rodrigues
             Por Anna Lydia (Jundiaí)         
                                           
“Você é mais bonita do que pensa”. Esta frase partiu de uma campanha publicitária da linha Dove e que circulou nas redes sociais esta semana. Não sou de fazer discursos publicitários nem estou aqui para defender a marca, mas reconheço a grandeza do tema. Ele toca no cerne da maioria das mulheres. E quando digo maioria, entendam-se quase todas.
De acordo com a própria pesquisa para a campanha, apenas 4% das mulheres estão satisfeitas consigo mesmas. Este é um número absurdo, visto que somos muito bonitas, basta andar pelas ruas e reparar. São milhares de rostos lindos e corpos saudáveis.
O interessante deste comercial é que eles mostram mulheres comuns de lingerie. Mulheres como eu e você, magras ou gordas, altas ou baixas, mas normais. E lindas.
O absurdo de nossa insatisfação se deve pelo mesmo fato que agora a marca defende uma causa. Os próprios anúncios publicitários são os principais responsáveis pela autoestima abalada da população mundial. Mulheres magérrimas- desnutridas, na verdade-, rostos perfeitos sem nenhum sinal da idade, cabelos lisos e loiros, como símbolo de ideal e padrão a ser seguido.
O padrão, a massificação da beleza, é que torna a insatisfação feminina em realidade. Quando nos deparamos com as pessoas que ditam a moda, achamos que nós é que somos os extraterrestres, as erradas e que nunca ninguém irá nos amar ou aceitar só porque temos uns quilos a mais que a modelo- apesar de parecer mais saudável-, ou por ter um cabelo afro.
Vale ressaltar que padrão de beleza sempre existiu, mas eram as cheinhas que faziam sucesso. Na idade média, a mulher magra era desconsiderada pelos homens. Já as com curvas avantajadas eram as preferidas para o casamento, sinal de fertilidade. Os tempos mudaram e somente hoje é que o ideal “magreza beirando a desnutrição” é que se tornou sinal de perfeição.
E o fato de uma marca tão conhecida e reconhecida no mercado como a Dove ter quebrado este padrão é que tanto agradou a nós, mulheres. Ela usou o próprio recurso que há muito só mostra padrões, para mostrar a beleza real.
A versão estendida da campanha (abaixo) tem como centro mulheres normais- trabalhadoras, estudantes, donas de casa- e que se descrevem para um artista, que não as vê. Depois, cada uma deve descrever a outra para o mesmo artista. Ao final, ele tem dois retratos de cada personagem – a que ela mesma se descreveu e o outro, pelo olhar de um desconhecido.
Os retratos são díspares. E claro, o segundo é bem mais bonito e mais verdadeiro que o primeiro. Tudo está na visão que temos acerca de nós mesmas. A reação de cada mulher é emocionante, algumas até choram tamanha sua descrença sobre si mesma.
“Imagine um mundo onde beleza é uma fonte de autoconfiança e não de ansiedade”. É assim que eles introduzem o pequeno texto que abre o vídeo. Cabe a reflexão: A beleza está na singularidade de cada mulher, é isso que nos faz especial. E não na massificação da beleza. Bonito é ser quem você é e não a quem os outros ditam.
Pense bem: Você é mais bonita- e mais especial- do que pensa.
Confira no link o vídeo completo

E com esta reflexão, as Magdalenas 3ª Geração dão bem vindas a mulheres lindas, batalhadoras e reais. Desfrute deste blog, conheça o projeto e tudo o que temos feito.