Em terra de chapinha, quem tem cachos é rainha
Foto: Reprodução
Qual é o limite dos
padrões de beleza?
Conversa
na fila do banco.
Mulher, se dirigindo a
uma mãe e sua filha, uma menina de 3 anos:
- Nossa, como você é
bonita. Seu cabelo é lindo, mas se você fizesse uma progressiva, ficaria
maravilhoso!
A
mãe, sem graça:
- É verdade, mas os
cachos são tão bonitos.
- Sim, são macios
também. Mas olha, se desse uma alisada, ela ia ficar mais bonita!
Enquanto isso...
- Mãe, vamos embora,
quero assistir Peixonauta.
Esta conversa
presenciada por mim mostra o quanto nós, adultos, somos bitolados por padrões
de beleza e o quanto queremos passar isso a nossas crianças. A menina, que,
aliás, é linda e tem um cabelo crespo maravilhoso, não quer, não precisa (e nem
pode!) fazer alisamento. Tampouco quer deixar de ser criança para já virar
gente grande e se preocupar com esta ditadura do que achamos ser beleza. Sem falar no quanto esta atitude é
prejudicial para a autoestima de uma criança,
que não irá se esquecer das vezes em que lhe falaram isso, quando se
tornar adolescente.
A conversa me fez
lembrar muitas outras meninas com menos de 7 anos, que, ao contrário desta, já se preocupavam com dietas, maquiagem e
alisamentos. Uma delas, inclusive, já havia parado de tomar refrigerante, pois
engorda e causa celulites, e não sai de casa sem fazer uma chapinha. Com apenas
5 anos!
Sabemos que é na
infância que a autoestima é desenvolvida e construída, portanto uma criança
precisa de elogios para crescer e se tornar um adolescente saudável. No momento
em que exigimos que uma criança seja o que ela não é para ficar mais bonita,
automaticamente ela estará construindo a insegurança e a falta de aceitação
própria, tão comuns nos adolescentes e adultos.
Diante disto tudo, me
pergunto: qual é o limite dos padrões de beleza e da vaidade na infância? Por
que eles precisam atingir crianças, que estão em processo de formação e mal
sabem escolher um brinquedo? Crianças precisam ser crianças e não adultos
precoces. A vaidade, em equilíbrio, é boa e necessária ao desenvolvimento de
qualquer pessoa, mas exigir algo que ela não é, é simplesmente desconstruir sua
autoimagem.
Se este comportamento
afeta a muitas mulheres, (infelizmente, ainda), que fazem de tudo para manter
em um determinado padrão de beleza, imagina para uma criança em processo de
formação!
Acredito que antes de
ensinar o que é bonito ou feio, deveríamos ensinar nossas crianças a se amarem,
se aceitarem e serem como elas são.
Vamos mudar o nosso
padrão de beleza? Que tal padronizar: ser bonito como se é?